4 de agosto de 2013

POR CAMINHOS DO ALÉM

O Chico 76, conhecido por Papa Francisco, veio declarar que, de acordo com os exemplos de vida, os ateus poderiam ir para o Céu. Pessoalmente, confesso que desconheço qual será a IP ou a auto-estrada que deverei percorrer para ir para o Céu. E a minha ignorância vai ao ponto de também ignorar o itinerário para o Purgatório, bem como o trilho para o Inferno. Ora, a Instituição vaticanesca veio logo desmentir o Chico 76, declarando que ele estava equivocado: o destino de um ateu só poderia ser o Inferno. Fica-se sem saber quem é que manda na circulação metafísica das almas: o Vaticano institucional ? O Chico 76 ? Um dos dois estará enganado. Ora, isto perturba muitíssimo as férias dos defuntos. Imaginemos que um deles, ou vários, queriam ir passar férias ao Inferno, onde presumivelmente estarão as gajas boas. Que fazer ? Perguntar ao Chico 76 ou à Opus Dei ? É uma encravação ! Mas coloquemos como hipótese académica o caso de um crente, muito patife, querer dar uma olhada pelo Inferno. Ele poderá, neste caso, dar uma boleia a um ateu. Mas a meio do caminho aparecerá a Brigada Rodoviária Celestial a dizer : - Tenham paciência, não podem ir juntos. Tu, patife mas crente, vais dar um salto ao Purgatório, bebes por lá um copo, para purificar, e segues logo para o Céu. Quanto ab ti, homem justo mas incréu, seguirás aquele carreiro, pois só podes ter guia de marcha para o Inferno. Parece-me que os caminhos do Céu deverão funcionar ainda pior do que a nossa Junta Autónoma das Estradas. O que é plausível. As Juntas obraram sempre mal, desde as Juntas Militares às juntas de bois.

27 de julho de 2013

HISTÓRIA DE UM TURCO

Ela era brasileira. Pelo menos, falava um português com melaço. Para os que tivessem um evidente e esdrúxulo apetite, aquela outoniça quarentona ainda "marchava". Talvez por isso, ia acompanhada por um "portuga" muito verboso. Notava-se que ela acabara de chegar a Portugal e estava a "tomar-lhe as medidas". Ao País, claro. O trintão, talvez macho porque falava alto - mas com jeitos "larilas", porque se fazia capacho - o trintão que a acompanhava, fazia os possíveis por a ver deslumbrada com os bons serviços lusitanos. Irromperam, perto das três da tarde, por uma das carruagens do combóio Alfa, que iria rumar para norte, em minutos. Dizia o magano: - " Está a ver ? Está a ver ? Tem ar condicionado. Lá fora estão 28 graus. Olhe estes 22 aqui dentro ". A "brasuca", que me pareceu com sono, acenava que sim com a cabeça. E a carraça lusa prosseguia: - "Já apreciou os bancos? Ora sente-se lá !". E ela, a bocejar, lá se sentou. O tipo: " Boa cadeira, não é ? Cómoda ! Estes Alfa são sensacionais. E olhe que fazem, em certas alturas, 220 quilómetros à hora". E ela : - "Tou vendo ...". E ele : - "Agora tem de vir ver o WC". Ela : - " O ... o ... o quê ?" Ele : - " O que vocês lá no Rio chamam banheiro". Ela, cabeceante : - "Máis tem di tê, né ?". Ele, convicto: - "Mas este "banheiro" é mesmo moderno. Olhe bem, a porta é automática ; a água sai para a bacia de lavar as mãos quando se carrega com o pé ; se precisar de "verter águas" ... Ela, perplexa : - "Vertê o quê, moço ?" Ele, enrascado: - "Bem, se for com a bexiga entalada ... " Ela, levemente escandalizada : - Ah, isso, e então ?" Ele, vitorioso : - " É só carregar neste botão. Depois de, claro, depois de..." Ela, conformada : - "Oh, moço, então haveria di sé antis di ??? " Ele, em catadupa : - "E depois de fechar a porta, tem um dispositivo de duas cores para avisar as pessoas de fora sobre se o WC, bem, o "banheiro", está ocupado ou não. É como nos semáforos. Verde, pode avançar. Vermelho, está ocupado". Ela, vencidíssima: - " Tá, moço. Tá. Tá tudo muito bem. Olha, tá ná hora di partir. Muito obrigado por tudo, viu ?" Quando a "brasuca" ficou entregue apenas ao verde-amarelo dos seus próprios pensamentos, deu um quase imperceptível suspiro de alívio e recostou-se comodamente. Mas lembrou-se então que precisava de uma garrafinha de água para o resto da viagem. Eu estava no banco contíguo. Estudou-me, com disfarce, antes de me dirigir a palavra. E acabou por inquirir : - "O Senhor mi disculpi. Mas tém bar nesti trem ?" Eu, fingindo segurança total : - "Claro que tem bar, minha Senhora. Carruagem oito". E ela : - "O Senhor é portugueis ?" E eu, sem vacilar : - " Não, minha Senhora, sou turco. Vivo é cá há muitos anos".

23 de julho de 2013

O EVANGELHO DE CHONÉ

Parece que foi na Turquia que foram encontrados uns Evangelhos segundo os quais se "prova" que Jesus Cristo foi um simples profeta, anunciando a vinda de Maomé. De acordo com a "sagrada" narrativa, quem morreu na Cruz foi Pilatos, embora Cristo tenha subido aos Céus. Não me perguntem como, porque também não sei. Mas o Vaticano teria ficado muito preocupado com tais contares. Vamos por partes. Há três "religiões do Livro" : a judaica, mais antiga, a cristã, a intermédia, e a maometana, a mais recente. Os tais Evangelhos da Turquia "borrifam-se" para o Antigo Testamento e fazem a ponte entre a narração cristã e o linguajar maometano. Foi nesta altura que surgiu na ribalta o Professor Choné, directamente vindo da África tropical , fazendo questão de perguntar : Então e eu ? Sim, e eu ? Que despautério é esse de me ignorarem?". Ora, eu acho que o Professor Choné tem toda a razão. Desconfio , até, que vá ser encontrado numa gruta da Ásia Menor um novo Evangelho, necessariamente apócrifo, que estabelecerá a ponte entre as cuecas de Maomé e a roupa branca do Professor Choné. Reparemos que Choné não é apenas um profeta, com pouca água de banhos e muita raiz de cenobita. Ele é um caso notável da Fé. Cura calos; resolve "encostos" de inveja; fornece satisfações nocturnas a viúvas em estado de carência ; prevê a melhor altura de cobrar dívidas ; esconjura a iminência de adornos de corno em testas de maridos de fraca potência libidinosa ; favorece embeiçamentos de urgência por franganotas de soquetes; aconselha a melhor altura de pagar o dízimo dos Jeovás ; e, finalmente, disfarça o cheiro da catinga com biliões de litros de "patchuli". Além disto, anda a escrever um Livro. Será, seguramente, a "quarta religião do Livro". O Chico 76 , que agora sobrenada a abundante porrada das ruas brasilienses, já lhe prometeu uma audiência, contra o compromisso de Choné rasgar de vez o malfadado incunábulo de sua lavra. Mais: marcou-lhe uma audiência com o responsável máximo (depois do Chico) do Banco Ambrosiano. Ora, isto é um crime. Um imperdoável crime. Porque consta que no Livro de Choné se provava sem contradita que Maomé era o filho bastardo de Cristo e de Maria Madalena. E que Choné, ele, sem tirar nem pôr, iria subir ao céu depois de desviar em proveito próprio cinco anos de dízimas dos Jeovás. A Cultura Teológica é um espanto. Nem quero outra coisa !

3 de julho de 2013

O ENREDO

O Contínuo : Sr. Primeiro, sr. Primeiro-Ministro, está aqui o Ministro Portas para ser recebido por Vocência. O Primeiro : Entra Paulo, entra. Espera lá , pá. Eu só disse para entrares NA SALA! O Paulo : Desculpa , pá. Mas , sabes, há impulsos ... Bem, mas então que razões te assistem para me mandares chamar ? O Primeiro: Estamos codilhados, pá ! O Gaspar quer zarpar ! E nesta terceira tentativa, declara que não há submarino que o demova. O Paulo : Lá tás tu a "mangar" comigo. Mas o gajo quer mesmo "dar de frosques" ? O Primeiro : Verdade, verdadinha, pá ! E agora ? O Paulo: Deixa-me pensar três minutos. (O Paulo pensa 3 minutos) O Paulo: Já sei, pá, já sei ! Isto vai ser porreiro pranós ! O Primeiro. Que é que dizes? Ensandeceste ? O Paulo: Nada disso, pá. Ora escuta ! Deixas o gajo ir embora. Verdade seja dita, que não perdemos grande coisa. O gajo tem voz de prisão de ventre. O Primeiro: "Tamos" perdidos, pá ! O Gaspar era o nosso seguro de vida e levava e dava beijinhos nas fuças da Merkel. O Paulo : És um básico, oh PPC ! Ora escuta e vê se consegues entender. Deixas o gajo ir embora. Depois, vou eu ! O Primeiro : Ahn ???? Quê ??? Como ???? O Paulo: Olha lá, onde é que tu estudaste, pá ? em que capim ? Com que soba ? Presta atenção. O Gaspar demite-se. A seguir, eu demito-me. Tu fazes uma cena digna de Shakespeare. Toda a gente vai dizer que a coligação já foi. O Primeiro : E não foi ? O Paulo : Claro que não, meu calhauzinho com olhos. Repara que tu estás com uma imagem descolorida. Tens de a muscular. O Primeiro: Muscular ? O Paulo: Sim, colorir, muscular, o que quiseres, pá ! Vai ser assim. Quando eu me demitir, ninguém dará 3 tostões furados pela coligação. O Primeiro : E não é assim ? O Paulo: Não ! É a altura exacta de tu fazeres um "flick-flack" ! O Primeiro : Um quê ? Um quê ? Um quê ? O Paulo : Uma malabarismo. Mas olha lá , eu tenho mesmo de te ensinar tudo ? Tu estás em estado comatoso. O Gaspar da voz de ventre demite-se. Eu também. O Primeiro: E depois ? Estou atirado aos bichos ... O Paulo: Tás nada. Vais à TV, em horário nobre e declaras que não abandonas Deus, não alienas a Pátria, não renegas a Família. Ou seja, não te demites . Percebes ? O Primeiro : Não ! O Portas : Lá vou eu ter de explanar tudo. Homem, o "portuga" é marialva e toureiro. Ele , do que gosta mesmo, é de chiquelinas. O Primeiro: DE quê ??????? O Portas: Deixa. Tu vais transmitir uma imagem de governante "con huevos" ... O Primeiro : Com ... QUÊ ?????????? O Portas: Com "eles" no sítio ( que é o que eu não tenho, mas isso não vem ao caso). O Primeiro : Estou a ver. Tu e o Gaspar ..." reciclam-me" ? O Portas: Claro. Vais ser mais considerado do que o Nuno Álvares Pereira !! O Primeiro : Ah, ah, ah pois, pois ! E tu ? O Portas: Eu livro-me desta cagada e vou ser a Consciência do País ! O defensor dos contribuintes. O Robin dos Bosques da classe-média baixa. A reserva da Nação. Percebes agora ? O meu Partido será o Bom Ladrão do montículo de Gólgota. O Primeiro : De quê ? Donde ? O Portas: Deixa lá, deixa lá, eu qualquer dia ofereço-te o Novo Testamento. O Primeiro : Mas tu vais morrer, pá ? O Portas: Vou ! Mas para ressuscitar e para te comer as papinhas na cabeça. O Primeiro, alarmado : Para ME COMERES O QUÊ ?????????? O Portas. Deixa. Deixa. Põe de lado. O Primeiro : Mas ... mas ... mas ...e o Boliqueimes ? O Portas : O Boliqueimes é um zero à esquerda. Esse faz tudo o que a gente quiser. O Primeiro: Tou a ver. O Portas : Não tás, não. Mas deixa lá. Se isto correr mal, embarcamos num submarino e zarpamos para o nosso destino natural. O Primeiro : Mas qual é o nosso destino natural ? O Portas : Bruxelas, meu burro, Bruxelas ! O Primeiro: Por submarino ? O Portas : E lá tenho eu de lhe explicar tudo outra vez ... (O pano cai. Aos soluços. Ao longe, gargalhadas mefistofélicas) FIM DO DRAMA

19 de junho de 2013

BIBA A CÓLTURA ! BIBA ! BIBA !

Continuo a gostar muito de entrar em livrarias. O que por lá se aprende ! Hoje, toda a gente escreve e isso é um seguro sinal do estado dos tempos. A locutora , toda penteadinha na capa colorida, que nas primeiras dez páginas ensina a fazer bolos de bacalhau e diz a razão do falhanço da antepenúltima namoração. O treinador de futebol, cheio de garra, expondo a arte do dribling e omitindo a melhor maneira de corromper os árbitros. O panasca de dedo mindinho no ar, explicando como se penetra (credo!!!) nos segredos das tiaças de Cascais e de que modo pode ser-se apalpado (no metropolitano, evidentemente) sem ninguém dar por isso. O triunfador do último Big Brother, ensinando como é que se descobre se as mamas da Vanessa são legítimas ou cheiram a silicone. Os romances daquele fulano que ninguém conhecia, mas que hoje vende mais do que sardinha em véspera de Santos Populares, pois inventa cenas incendiárias de alcova, com seguro recurso a urtigas- de-cu-lavado e a preservativos a saberem a extracto de tangerina. E depois há muito livro de jogging, de decoração, de artes performativas, de lingerie, de kamas-sutras ilustrados ou apenas imaginados, de bonsais, de comida vegetariana, de técnica de iluminação japonesa, de suchi, de jardinagem, de ervas cheirantes curativas, de religião com fotografias garantidas da Nossa Senhora de Fátima, da Nossa Senhora de Lurdes, da Santinha da Ladeira (que Deus a guarde, coitadinha !), de São João Nepomuceno, de Santa Rita de Cássia e tudo o mais. Quem é que disse que a Cultura estava em crise ? Acontece, isso sim, que Vocês não frequentam livrarias.

18 de junho de 2013

O CRATO DO "EDUQUÊS" ...

O Crato da UDP // Quem o viu e quem o vê // Gosta de fazer chinfrim // Aos Professores, porque sim // Diz que há que trabalhar // Nenhumas greves fazer // E as normas acatar. // Oh Crato, vai-te coser // Com as linhas da pulhítica! // Não te esqueças de dizer // Numa linguagem mítica // Que sim, que não , também acho : // Mas o que tu queres é TACHO !

13 de junho de 2013

PADRE ? PRIOR ? NÃO ! VIGÁRIO !

Temos uma língua sonora e variada. Todos os sabemos. Mas , no caso da sinonímia, não escapamos ao mundo das nossas preferências. Por exemplo: uma sacerdote da Igreja católica pode ser designado por Senhor Padre, Senhor Prior ou Senhor Vigário. Tenho de confessar que privilegio o terceiro vocábulo. O primeiro é equívoco. Por que carga de água é que eu hei-de chamar "padre" a um magano que não me é nada ? E por que diacho é que ele é "padre", estando condenado ao celibato ? Padre de quem ? Depois, a proximidade de duas vogais - o A aberto e o E fechado - torna a vocalização pouco expressiva. Prior é um pouco melhor. Induz a visualização de um praticante de "skate". A palavra, primeiro, sobe por força do I, impulsionado por um R que vem mesmo a calhar. E depois desce apressada e envergonhadamente, deslizante para um O tímido. Um Senhor Prior só pode ser um praticante de "skate" pelos corredores das sacristias. Mas bom, mesmo bom, é o Senhor Vigário. Um regalo para os ouvidos e para as beatas da Sé ! Desde logo, o qualificativo sacro inicia-se com um V, que é uma letra vitoriosa e vibrante. Depois, o resto é algo de parecido com a música do "Cosi Fan Tutte" do meu homónimo. Um A aberto, mais aberto do que o decote de uma viúva. E logo um I , a suspirar por um "ai" de confessionário. E tudo se resolvendo, com unção, num U murmurante e casto. Vigário, sim ! Se eu mandasse, obrigaria o Xico 76 a escrever uma decretal, impondo que os sacerdotes deixassem de ser padres ou priores. É que, o que eles são mesmo, por imposição da idiossincrasia e do hissope, é VIGÁRIOS ! Ah, seus Vigários de uma cana ! "Cosi Fan Tutte"